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quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O que você entende por superficialidade?



Hoje me perguntaram: O que você entende por superficialidade?
Fui pega de surpresa, pois em momento algum me ocorreu em refletir sobre a superficialidade. Sabemos o que é ser Superficial, mas como expressar em palavras?.
Esta pergunta de supetão me remeteu a refletir sobre este tema.
Ser superficial para mim é estar a beira, na borda, olhar o que se mostra, o que se apresenta diante de nós, me trás a sensação de uma aceitação sem reflexão critica, um olhar de relance. Me remeteu ao vazio, às máscaras que em algum momento cai, me remeteu às aparencias, aquilo que no fundo não é.
Refleti sobre a superficialidade em vários aspectos da vida, nos relacionamentos (seja ele amoroso, amizade, pais e filhos), na realização de um trabalho (seja academico, seja profissional), no autoconhecimento, na forma como nos apresentamos ao mundo, como nos posicionamos.
Me lembrei de algo tão simples, uma atitude nossa de cada dia, que nem se quer nos damos conta. Encontramos um amigo e ao cumprimenta-lo dizemos:
Oi, tudo bem?
Tudo e você.
Tudo...
E aí a conversa prossegue, este ato é tão automático e que todos já esperam receber e responder "tudo" e não importa o quanto estejamos "um caco" nossa resposta será sempre a mesma, seja com um sorriso irradiante ou um sorriso "amarelo".
Não me vem nada mais claro, no momento, de um clássico exemplo de superficialidade e digo isso porque se olharmos nos olhos, se repararmos na fisionomia, nos pequenos traços, sentiremos, se de fato a resposta condiz com a pergunta..... E o mais interessante é ousarmos ser sinceros e responder a verdade, "não, está tudo péssimo" parece que as pessoas travam, são pegas de surpresa e algumas não conseguem esconder o incomodo com a situação, afinal mudou-se a rotina, diante da supercialidade automática, parece que as pessoas não estão preparadas para ouvir e muito menos acolher.
Olhando para os relacionamentos, podemos igualmente perceber o quanto alguns são extremamente superficiais, claro que sei que amizade, aquela do peito é algo que se constrói aos poucos com o passar do tempo, mas também reflito sobre o quanto com o passar dos anos, certos valores mudaram, certas formas de se relacionar mudaram.
Eu tenho poucos amigos, vários colegas e muitos conhecidos e meus melhores e maiores amigos são aqueles que construi ao longo de décadas, desde a infancia. Certa vez um amigo me disse o seguinte, que nós somos realmente amigos, aquele do peito e aquele que de certa forma podemos contar, que de fato estão ao nosso lado pelo que somos e não pelo que temos, pois nos conhecemos em um momento em que nada tinhamos, éramos crianças.
Claro que tenho grandes amigos que conheci na fase adulta e nem por isso são interesseiros ou menos amigos, mas percebo que algumas amizades são diferentes, os tempos mudaram, o mundo mudou, as pessoas também mudam, mas algo me inquieta e intriga.... existe um certo vazio.
Vejo que em algumas situações, a aparencia, o jogo de poder, o status, contam mais do que realmente o laço de amizade, contam mais com o verdadeiro querer bem, ou seja, sou sua amiga, companheira (o) do peito enquanto você de alguma forma puder me servir. Quem nunca se sentiu assim que me atire a "primeira pedra". Se sairmos da superficialidade e mergulharmos de verdade na reflexão das nossas relações de amizade nos depararemos com esta situação facilmente e isso não quer dizer que gostaremos menos de algumas pessoas, que todas são ingratas, mas que no fundo, a relação que se estabeleceu é superficial, serve a uma função, existe um propósito e ponto. Sem mágoas e rancores, afinal nós também não somos perfeitos!.
Outro ponto que me fez refletir foi sobre os relacionamentos amorosos, estes então por um momento me chocam e antes de prosseguir, ressalto, sim! eu acredito no amor, sou meio a moda antiga..
Mas reparo em como as pessoas hoje se relacionam, e por um momento, juro, me sinto meio careta!
É um tal de fica aqui, pega ali, cata lá, ouço frequentemente, "Ah se não der certo, separa", saidas de um relacionamento, entradas em outro, numa rapidez estrondoza, quando as pessoas não ficam ali, na eterna "azaração". As vezes tenho a sensação de que se perdeu aquela magia da paquera, do olho no olho, do sorriso, de uma bela conversa, parece que caiu de moda, virou brega, antiguado paquerar, o que pega hoje é "chegar chegando e beijar na boca" ou "cala a boca e beija logo", e assim iniciam-se as contagens, de quantos (as) "pegaram" na noite. Há um certo tempo, fui em uma "balada"  e fiquei observando, passa, olha e beija e depois, sai andando... mas... qual o seu nome? Pra que saber o nome, afinal, o que importa é beijar e chegar ao final da noite com um número razoavel de pessoas e um imenso vazio no coração. E para que pensar no vazio se o que conta é que sua "beleza, aparencia e aceitação" serão contabilizados nos números, é isso que conta afinal, mas algo continua a me intrigar, e o que se faz com o vazio, preenche ele com várias doses de vodka?  E indo um pouco mais além, sem sair da superficialidade, e o sexo por sexo, por simples prazer e no dia seguinte, normal, cada um para o seu lado e beleza? Fico aqui pensando,  e o vazio, será impressão minha ou continua aumentando cada vez mais.
E fico aqui me perguntando, refletindo sobre o aumento do consumo de alcool, drogas, parceiros, obesos, depressivos e por aí vai. Será que posso associar isso a esta tal de superficialidade?, talvez. Embora exista as questões associadas, que não adentrarei aqui.
Adentrando no relacionamento familiar, o que mais ouço todos os dias "meu filho (a) não me ouve, não me obedece, faz o que quer, não tem mais jeito, não tem limites" e por aí vai. E ao escrever isso me recordo de uma pessoa com quem trabalhei anos atrás que me dizia, "basta eu olhar para meus filhos e eles já sabem o que quero dizer a eles". E hoje nem gritar resolve mais.... Fico pensando nos vinculos, no afeto e ao mesmo tempo penso, qual afeto predomina mais, o emocional ou financeiro? Passa-se menos tempo com os filhos, afinal temos que correr atrás do dindin que com toda certeza do mundo, não caí do céu, mas penso, não é o tempo que se passa, mas a qualidade de cada minutos que se pode estar com, e isso não quer dizer fisicamente. O que vejo com frequencia, são pais cada vez mais ausentes e isso em todas as camadas sociais, e filhos cada vez mais afagados por toda a inovação tecnologica, abraçados pelas ruas, acolhidos pelos vicios (narguile, cigarros, bebidas, drogas e por ai vai). Vejo pais perdidos, filhos sem limites, pedidos de socorro das mais variadas formas. Mas onde entra esta superficialidade? Escutamos, mas somos incapazes de ouvir, vemos, mas somos incapazes de enxergar, afagamos com todas as inovações tecnologicas, com a moda, mas somos incapazes de dar e nos entregar a um abraço, educamos com as melhores escolas, com todos os cursos, com o que há de melhor, mas somos incapazes de educar com valores e exemplos, perdemos rapido demais a paciencia e compreendemos de menos e por ai vai. Sem falar nas classes menos favorecidas, onde a labuta do dia a dia, distancia cada vez mais esta presença, fragiliza ainda mais este alicerce tão importante na formação de todo e qualquer ser.
Prossigo pensando sobre o trabalho nosso de cada dia e claro, pensando em minha área de atuação, reflito sobre meu instrumento de trabalho, olhos, ouvidos e boca. Posso olhar a pessoa que está na minha frente, posso ouvir o que me fala, mas só conseguirei atuar, se conseguir enxergar quem ali está e de fato só conseguirei compreender o que me diz, se eu escutar atentamente tudo que me diz, me despindo do que eu acho, afinal o que eu acho, só é importante para minha vida. Os juizos, meus valores, meu habitos minha construção, absolutamente nada valem para aquela vida que tenho diante de mim, é preciso ir alem. Se nos mantivermos na superficilidade corremos o risco de não enxergar o ser humano total que tenho a minha frente, que tem uma história, que tem autonomia para fazer escolhas, mesmo aquelas que eu acho mais erradas, mais inoportunas e improprias, corro o risco de por não compreender, não aceitar o que é me dito, não ir além, não mergulhar e compreender aquela vida que está diante de mim, muitas vezes com seu grito de socorro, escondido no silencio de uma lagrima de caí....
E fico aqui pensando, neste vazio, nesta necessidade desenfreada de consumir, ter, da busca desenfreada por uma exuberante aparencia e uma fuga fulgaz do ser, do autoconhecimento, do entrar em contato com nosso mais profundo ser. Afinal cuidar da aparencia, seja ela, status ou fisica dá menos trabalho, afinal o superficial é o que se mostra e vestir esta máscara, por vezes cai bem demais, então, pra que se preocupar em se olhar, aquele olhar franco, sincero, dolorido por vezes, mas ao mesmo tempo compensador, nada paga a sensação de nos olhar e nos sentirmos felizes pelo que somos e não pelo que temos, afinal, quando falamos em ter, o que hoje é inovação, daqui um mês é ultrapassado.
Vejo que se eu for continuar a escrever sobre tudo que me remete a esta tal superficialidade, daria para escrever um livro, talvez em algum outro momento, volte a refletir sobre este tema.
Pensando sobre ele, fico com a sensação de um certo vazio, ou quem sabe um incomodo, por perceber que somos mais superficiais do que realmente pensamos, pois neste mundo "fast food", somos engolidos por uma falta de tempo absurda, seja simplesmente para pensar, não há tempo, temos milhares de coisas para fazer até chegar ao final do dia, então seguimos assim, vamos que vamos, não há tempo a perder, tempo é dinheiro e com isso perdemos em qualidade, seja de vida, seja do trabalho que desenvolvemos, seja em fortalecer vinculos, em curtirmos os momentos, em vivermos de fato, termino esta reflexão com a sensação  se não pisarmos no freio e sairmos do piloto automatico, corremos um sério risco de parecermos robos, cada vez mais inovados e cada vez menos pensantes, reflexivos e criticos, ou seja, mergulhados, engolidos pela superficialidade.

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