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quinta-feira, 1 de maio de 2008

Solidão


Talvez a solidão seja uma das formas de estar mais difíceis, talvez por isso seja tão temida, tão evitada. Caminhar pela solidão é como estar em meio ao inverno, talvez melhor representada como um rigoroso inverno. Sabe aquele dia que acordamos e ao sairmos de casa, o sol está coberto pelas nuvens, aquele vento frio passa pelo nosso corpo, a garoa fina parece aumentar ainda mais o frio que nos cerca, por mais roupas que usamos, parecemos não nos aquecer, como alguns dizem, sentimos aquele frio doído. Mergulhar na solidão talvez seja mais um ato de coragem do que uma escolha, creio que ninguém escolheria a solidão como forma de estar no mundo, pois seria como renunciar ao calor que somente o amor nos proporciona. No inicio, quando decidi sentir a solidão, achei que fosse apenas uma escolha, hoje sei que além disso, foi um ato de coragem. Vivenciar o frio, a dor da solidão, requer abrir mão do calor, do bálsamo do amor, da paixão, do contato e até mesmo da ilusão. É trilhar por um caminho tortuoso, difícil, angustiante e até mesmo enlouquecedor, é lançar-se na escuridão e sentir nossa alma dilacerada, é aceitar vivenciar uma profunda dor. Ousei vivenciar a solidão, não como um eremita, não me isolei do mundo, não me tranquei por completo, ao contrário, me abri para o mundo e me fechei para o amor. Não falo da solidão como fuga do mundo, de todas as pessoas, falo da solidão mais temida, o estar só, sem ninguém para compartilhar sonhos, sentimentos, amor, ilusões. Vivenciar a solidão me fez chorar muitas noites, me fez sentir o gosto amargo de estar só, me fez abrir mão de fazer planos, de sonhar, de sentir a alegria da paixão, o encantamento que toma conta dos enamorados em todo começo de relação, me fez abrir mão da ilusão. Com isso pude descobrir muito de mim mesma. Pude mergulhar em mim mesma, descobrindo meus mais sublimes sonhos, sentindo toda magia da vida exalando por meus poros. Pude encontrar meu lado mais frágil, mais vulnerável. Pude me descobrir como menina, adolescente e mulher. Pude me redescobrir e vivenciar as mais belas emoções de um momento apenas meu. Pude ouvir o meu interior, despertar meu lado intuitivo e com isso me permitir ouvir a voz do meu coração. Pude me despertar pela Fé, lançar-me à Deus com toda intensidade, sentir o seu poder invadir minha vida. Pude sentir o sol brilhar em meu interior me aquecendo do pior frio da solidão, aquele sentido quando abandonamos a nós mesmos. Porém, mesmo descobrindo tanto sobre mim, pude compreender a importância do outro em minha vida, a esta altura minha alma já dilacerada, ansiava por repousar no terno sentimento do amor. Renascer das cinzas da solidão me mostrou um caminho mais florido e com os mais diversos pedregulhos, buracos, obstáculos, trilhas mais fáceis de caminhar e aqueles que exigiam maiores esforços. Percebi o quanto olhava para o mundo de forma diferente, com o encanto de uma criança, vislumbrada como se tudo estivessem olhando pela primeira vez, com a força, leveza e entusiasmo de uma adolescente como alguém que pode conquistar o mundo, mas com a firmeza, segurança e prudência de uma mulher que aprendeu que o encanto e demasia é ilusão, assim como a coragem em demasia é imprudente, da mesma forma que compreende que a prudência em demasia é paralisante. E com isso, passei a compreender o sentido do equilíbrio. Ter mergulhado nas águas profundas e gélidas da solidão, me possibilitou um grande crescimento, um nova forma de olhar e sentir o mundo, uma nova forma de experienciar as mais diversas formas de sentir a vida e escutar a voz do meu coração. Hoje me sinto mais completa e ao mesmo tempo vazia, uma parte deste vazio se chama amor pelo outro, a busca por aquele que posso chamar de companheiro. A outra parte deste vazio se chama vida, essa força propulsora de nossa busca de sentido que nos impulsiona ao crescimento que nos mostra que não devemos parar, mas seguir sempre em frente. Para finalizar, creio que uma das mais valiosas lições que tirei entre tantas ao mergulhar na solidão é que sempre existirá um vazio, que jamais poderá ser preenchido, seja por nós ou pelos outros, é um vazio que nos sinaliza, nos direciona rumo aos nossos sonhos e anseios, é um sinal de alerta, quando paralisamos, quando vamos contra ao apelo de nossa alma. E ao ouvi-la, nos sentimos preenchidos para logo nos esvaziar, pois talvez o maior anseio de nossa alma, seja que permitamos nos lançar neste maravilhoso mistério chamado VIDA.

Katia Tanaka



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